Atópicos Brasil

Doença de Fabry

Raro distúrbio genético responsável por uma variedade de sintomas que podem afetar muitas partes do corpo, incluindo a pele, olhos, rins e coração

A doença de Fabry é uma desordem genética rara e progressiva, que resulta de uma deficiência de uma enzima chamada alfa-galactosidase A (α-GAL). Esta enzima é necessária para o corpo decompor uma substância gordurosa chamada globotriaosilceramida (GL-3). Quando a enzima α-GAL está ausente ou não funciona corretamente, o GL-3 se acumula nos tecidos e órgãos do corpo, levando a uma série de sintomas e complicações de saúde.

A doença de Fabry é herdada através do cromossomo X, onde é localizado o gene defeituoso. Homens, que têm apenas um cromossomo X (sendo o outro Y), são mais propensos a desenvolver a doença se herdarem o gene defeituoso. Já em mulheres, que têm dois cromossomos X, a gravidade dos sintomas pode variar pois em cada célula feminina, um dos dois cromossomos X é inativado aleatoriamente, num processo chamado inativação do X. Isso significa que algumas células podem expressar o cromossomo X com o gene defeituoso, enquanto outras expressam o cromossomo X normal.

A doença de Fabry apresenta uma expressão clínica extremamente variável, isto é, pode-se encontrar indivíduos sem sintomas até aqueles gravemente afetados. O espectro de órgãos afetados e os sintomas manifestados podem diferir de paciente para paciente, variando também com a idade e o sexo, com manifestações distintas em homens e mulheres.

Alguns dos sintomas mais comuns são:

1. Tontura;

2. Alteração na córnea (chamada córnea vercilata, identificada apenas por um Oftalmologista);

3. Problemas auditivos (zumbido e surdez);

4. Cansaço;

5. Problemas cardíacos;

6. Marcas vermelhas na barriga;

7. Dor nas mãos;

8. Problemas digestivos (enjoo, vômito, dor na barriga, diarreia);

9. Insuficiência dos rins;

10. Marcas vermelhas entre as pernas;

11. Dor nos pés.

Reprodução: Sanofi Conecta

Intolerância à atividade física

Não conseguir suar

Intolerância ao calor

A doença de Fabry, ligada ao cromossomo X, pode ser transmitida tanto por homens quanto por mulheres, sendo que as últimas não são meramente portadoras. Homens possuem 100% de probabilidade de transmitir o gene mutado para suas filhas e nenhuma chance de transmiti-lo para seus filhos. Por outro lado, mulheres com a doença de Fabry têm 50% de chance de passar o gene mutado para qualquer um dos filhos, seja menino ou menina. As mulheres que possuem o gene GLA mutado desenvolvem Fabry, no entanto, as manifestações podem ser bastante variadas devido à inativação específica do cromossomo X no órgão e tecido.

1 em 40 mil homens sofrem da doença;
1 em 20 mil mulheres sofrem da doença;
A cada paciente diagnosticado, podem-se identificar em média mais 5 membros da família afetados.

Embora a doença de Fabry seja classificada como rara, sua prevalência é significativamente maior em pacientes com certas condições, como doença renal crônica (DRC) de causa desconhecida, cardiomiopatia hipertrófica (CMH) e acidente vascular cerebral (AVC) precoce, em comparação à população geral. Portanto, é crucial realizar triagem para a doença de Fabry em pacientes com esses distúrbios.

O diagnóstico em homens é normalmente estabelecido pela medição da atividade da enzima alfa-galactosidase A (α-GAL) no plasma, leucócitos, fibroblastos de pele cultivados, tecido de biópsia ou sangue seco. Caso a atividade enzimática seja baixa, é conduzida uma análise de DNA para identificar a variante genética. Em mulheres, o diagnóstico é feito primariamente através da análise de DNA para identificar a variante genética, visto que mulheres com a doença de Fabry podem apresentar atividade α-GAL em níveis baixos ou mesmo normais.

Apesar de mulheres com mutação no gene GLA poderem ser assintomáticas ou apresentar manifestações clínicas leves, é crucial realizar a identificação definitiva de indivíduos heterozigotos. O diagnóstico preciso possibilita que os profissionais de saúde monitorem novos sintomas e a progressão da doença, além de auxiliar na identificação de outros membros da família que possam estar afetados pela doença.

Embora seja uma condição grave e sem cura, a doença de Fabry pode ser tratada. Quando iniciado precocemente, o tratamento pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Atualmente, o método mais recomendado de tratamento é a Terapia de Reposição Enzimática (TRE). Esta terapia é administrada por meio de uma infusão intravenosa e visa compensar a deficiência completa ou parcial da enzima alfa-galactosidase A.

O tratamento da doença de Fabry requer uma abordagem multidisciplinar que pode envolver uma equipe de profissionais de saúde, incluindo geneticistas, conselheiros genéticos, nefrologistas, neurologistas e cardiologistas, entre outros especialistas.

Cada profissional tem um papel crucial na monitorização dos pacientes com doença de Fabry, observando o surgimento de novos sintomas e o controle dos sintomas existentes. Essa supervisão constante permite um tratamento mais eficaz e personalizado, melhorando a gestão da doença e, consequentemente, o bem-estar do paciente.

A doença de Fabry, como uma doença genética de armazenamento lisossomal, tem visto avanços significativos nos métodos de tratamento nos últimos anos. Aqui estão alguns dos avanços notáveis:

1. Terapia de Reposição Enzimática (TRE): Este tem sido o pilar do tratamento para a doença de Fabry. A TRE envolve a infusão regular de uma versão recombinante da enzima alfa-galactosidase A, que está ausente ou não funciona corretamente nos pacientes com doença de Fabry. Isso ajuda a quebrar o GL3 acumulado nas células. Até a data do meu conhecimento, duas formas de TRE, agalsidase alfa e agalsidase beta, estão disponíveis. Estudos têm mostrado que a TRE pode melhorar a função renal, reduzir a dor e possivelmente prolongar a vida.

2. Terapia de Redução de Substrato (TRS): Este é um método alternativo para a TRE. Em vez de tentar substituir a enzima ausente, a TRS reduz a produção de GL3. Migalastat é um medicamento oral de TRS que tem mostrado ser eficaz em pacientes com certas mutações genéticas.

3. Avanços na terapia genética: A terapia genética, que visa corrigir a causa genética subjacente da doença de Fabry, está sendo ativamente pesquisada. Embora ainda esteja em estágios experimentais, os avanços recentes na tecnologia de edição de genes, como CRISPR-Cas9, podem potencialmente fornecer uma cura definitiva para a doença de Fabry no futuro.

4. Novas drogas e terapias de apoio: Novas drogas para tratar sintomas específicos da doença de Fabry também estão sendo desenvolvidas. Por exemplo, medicamentos para controlar a dor neuropática, tratamentos para problemas gastrointestinais e terapias para prevenir doenças cardíacas e renais.

5. Melhorias no diagnóstico e rastreamento da doença: Avanços na genética e na tecnologia de imagem estão ajudando a diagnosticar a doença de Fabry mais cedo e a monitorar sua progressão de forma mais eficaz. Isso permite que os médicos iniciem o tratamento mais cedo e possam ajustá-lo com base na resposta do paciente.

Apesar desses avanços, ainda existem muitos desafios no tratamento da doença de Fabry. A TRE, por exemplo, pode não ser eficaz em todos os pacientes e pode causar efeitos colaterais. A pesquisa continua em busca de novos tratamentos e estratégias para melhorar a qualidade de vida dos pacientes com doença de Fabry.

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